segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Lee 'Scratch' Perry - Roast Fish Collie Weed & Corn Bread (1978)


LeeScratchPerry começou sua carreira trabalhando como faz tudo no Studio One, sob as ordens do lendário produtor Coxsone Dodd. Em meados da década de 60, ele era um misto de mensageiro, técnico de som, compositor, DJ, segurança e também vocalista, mostrando todo seu ecletismo (foi lá que gravou as faixas reunidas em Chicken Scratch). Depois de sete anos de trabalho, brigou com Coxsone por causa dos parcos salários e da falta de reconhecimento e foi trabalhar com Joe Gibbs, que na época ainda não era um produtor, mas tinha muita grana. Perry passou a comandar o selo de Gibbs, conseguindo alguns hits com suas produções, entre elas uma música onde fazia acusações diretas ao seu ex-patrão. Pouco tempo depois deixou o novo chefe, novamente atirando para todos os lados, dando mostras do seu gênio terrível e da sua forte personalidade. A partir de 68 passou a trabalhar por conta própria criando seu próprio selo, o Upsetter, e recrutando alguns jovens músicos para formar sua banda de estúdio, os Upsetters. A formação incluia os irmãos Family Man e Carlton Barret no baixo/bateria, o guitarrista Alva Lewis, o tecladista Glen Adams e Max Romeo nos vocais. Na época todos circulavam por Kingston assintindo filmes do estilo ’western-spagueti’ no cinema, à tarde, e passando as noites no estúdio, onde, devidamente inspirados, criavam ritmos demolidores. Em 69 Perry emplacou um hit com a banda na Inglaterra justamente inspirado em tais filmes,”Return of Django”, o que lhe lhes rendeu seis semanas de shows, a primeira turnê de um grupo jamaicano por lá. Foi justamente nessa época que os caminhos de Lee Perry se cruzaram com os de Bob Marley, em termos profissionais, visto que eles já se conheciam dos tempos do ska, tendo ambos trabalhado com Coxsone no Studio One.
As coisas estavam mudando na emergente cena reggae jamaicana, com o aparecimento de novos selos e produtores independentes, que punham em xeque o reinado dos dois maiores produtores até então, Coxsone e Duke Reid. Assim, os Wailers, que estavam sem produtor depois de terem feito sucesso e brigado com Coxsone, acabaram topando com Lee Perry, então lutando por seu espaço no competitivo mercado. Depois de algumas jams e gravações com os Upsetters, Bob Marley intimou o grupo à abandonar Perry e se juntar à eles, com o argumento de que a união da melhor banda de estúdio com o melhor grupo vocal da Jamaica seria devastadora. Quando Lee Perry soube da tentativa de Bob ficou furioso, a ponto mesmo de querer matá-lo. O caso só foi resolvido num tête-a- tête entre os dois, quando depois de horas de discussão acalorada eles chegaram a um acordo, deixando a sala onde estavam em meio à risos e tapinhas nas costas. Os Upsetters se juntariam aos Wailers, sim, mas o produtor exclusivo seria, obviamente, o próprio Perry. Logo todos estariam no estúdio, criando o que seria o ponto alto não só das carreiras de cada um como também da própria história da música jamaicana. A química que rolou nas sessões dos Wailers com os Upsetters, sob o comando genial de Lee Perry, foi fenomenal, tal a quantidade de clássicos que foram produzidos, que mudaram os rumos do reggae, serviram de base ao enorme sucesso alcançado por Bob na sequência e estabeleceram Lee Perry como um dos grandes produtores da Jamaica. Muitas das músicas que saíram dessas sessões (Small Axe, Duppy Conqueror, Kaya, Put it on, entre outras) foram regravadas depois por Bob, mas a mágica das gravações originais nunca seria ultrapassada. Entre 69 e 70 as coisas funcionaram bem, mas em 71 a lua de mel entre Lee Perry e os Wailers acabou. Tratando-se de personalidades fortes, foi até natural o rompimento da relação de amor e ódio que se estabeleceu entre eles, em meio à acusações mútuas.
Os Wailers ficaram com os irmãos Barret, reformulando o grupo e assinando contrato com a Island em 72, onde continuaram a fazer história. Os demais músicos seguiram seu caminho e Lee Perry ficou com o nome Upsetter, convocando novos músicos para seu próximo projeto. Com o fim da revolucionária parceria com os Wailers, LeeScratchPerry começou a construir um estúdio que viria a se chamar Black Ark (cuja produção foi compilada em várias coletâneas, entre as quais a sublime ARKOLOGY), reformulando a formação dos Upsetters. Já estabelecido como produtor, ele conseguiu sua independência em relação aos tradicionais chefões jamaicanos e se afirmou como um dos nomes mais importantes da cena reggae. Entre 74 e 79, o Black Ark foi uma potente usina musical e ditou as regras na música da ilha, sob o comando de seu tresloucado construtor/comandante. O som do Scratch e de sua confraria marcou época com produções inovadoras e à frente do seu tempo. Passaram pelas mãos do Scratch nomes como Max Romeo, Junior Murvin, Heptones, Gregory Isaacs, Junior Byles, Congos, além de calouros a quem ele dava a tão sonhada primeira chance. E ele ainda encontrava tempo para cuidar de sua carreira solo.
Com as atenções do mundo voltadas para a Jamaica por conta do sucesso de Bob Marley, era natural que a música de Lee Perry se destacasse, levando-o à vôos internacionais. A Island Records assinou com ele um contrato de distribuição, e seu estilo acabou chamando a atenção de figuras como Paul McCartney e o Clash, que inclusive regravaria no seu primeiro disco a clássica ’Police and Thieves’. Pra manter a tradição, passado um tempo, ele rompeu com Chris Blackwell, chefe da gravadora, à quem também fez acusações através de suas músicas. Lee Perry viveu todo esse período trancado no estúdio, às voltas com intemináveis sessões de gravações regadas à álcool e ganja em profusão. Isso somado às atribuições do estrelato levou-o a sofrer uma séria crise nervosa, que culminou com o incêndio do Black Ark, ateado por ele mesmo, em 79, num episódio trágico. Além de dar um tiro no pé, acabou abandonado por sua mulher, cansada de ter que aturar o seu estilo de vida. O acontecimento significou uma ruptura radical com o passado e marcou o início de uma fase em que ele passou a ter um comportamento um tanto excêntrico. Às vezes recebia jornalistas agindo de maneira estranha, em meio às ruínas do estúdio, totalmente cobertas de graffitis e outras pinturas, e fazia maluquices de todo o tipo, sempre com um discurso meio fora de órbita . Por essas e outras, ficou com fama de louco. Perry passaria os anos seguintes errando entre a Europa e a Jamaica, chegando a morar em Amsterdam e gravando (poucos) discos. Uma de suas decisões foi parar de produzir outros artistas e houve uma vez em que ele tentou reconstruir o estúdio, mas a tentativa acabou fracassando.
Em 82 e 84 ele emitiu os primeiros sinais de que poderia voltar à antiga forma com o lançamento de dois ótimos discos. Mas foi apenas em 87 que finalmente aconteceu o retorno definitivo do gênio aos seus melhores dias. Trabalhando em conjunto com o produtor inglês Adrian Sherwood e sua banda, a Dub Syndicate, Perry lançaria o clássico ’Time Boom X De Devil Dead’, muito mais do que uma obra prima. Foi a sua volta à cena em grande estilo. Na sequência se seguiram outros excelentes lançamentos, bem como várias reedições de suas agora lendárias produções dos anos 70.
Estabelecido na Suiça, com uma nova esposa, LeeScratchPerry se mantém como um dos nomes mais importantes e decisivos na história do Reggae. As últimas notícias que se tem dele é que estaria trabalhando com o filho Omar, na tentativa de recuperar fitas antigas com material gravado no Black Ark, e construindo em casa um novo estúdio, desta vez chamado Blue Ark, de onde certamente sairão grandes produções.
Playlist:

01 Soul Fire
02 Throw Some Water In
03 Evil Tongues
04 Curly Locks
05 Ghetto Sidewalk
06 Favorite Dish
07 Free Up the Weed
08 Big Neck Police
09 Yu Squeeze My Panhandle
10 Roast Fish and Cornbread

Linkhttp://www.4shared.com/file/qI1txufa/Roast_Fish_Collie_Weed__Corn_B.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário